terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Aeroporto de Vigo

O comandante avisa pelos alto falantes que vamos aterrissar em cinco minutos. É noite e parece que as nuvens não vão deixar uma brecha para admirar a ria e a ponte de Rande daqui de cima. O avião se inclina e se impõe às constantes turbulências.

Em Vigo, construiram o aeroporto em cima de uma montanha. Dizem que originalmente foi pensado para ser uma base de uso militar, na época da ditadura ou da guerra civil, ou das duas coisas ao mesmo tempo (preciso estudar um pouco de história espanhola do século XX). Como resultado, o aeroporto ficou em uma das zonas de maior concentração de neblina da região.

As turbulências parecem ter durado muito mais que os cinco minutos prometidos, talvez uma meia hora, talvez uns dois dias. Flutuávamos em meio a um mar de algodão branco que nos jogava para cima e para baixo como um gato brincando com seus brinquedinhos. Os passageiros já demonstravam certa apreensão quando o avião muda repentinamente seu rumo, empinando para os céus e colocando força (e ruido) total nas turbinas para voltar a subir em um ato que pareceu desesperado.

Será que o piloto se perdeu? Teria subido para evitar o choque certeiro contra a parede vertical de uma montanha? O trem de pouso não terá funcionado?

A aeromoça pega o telefone e se comunica com a cabine. Não sorri, mas também não chora. E os alto falantes voltam a emitir algumas palavras para tranquilizar alguns passageiros: "Tivemos que realizar uma manobra de última hora e voltaremos a aterrissar em quinze minutos".

Quinze minutos que também duraram meia hora, talvez dois ou três dias. A cena se repete: nuvens que nos jogavam de um lado a outro, que não nos deixava visualizar o trajeto pelas janelinhas claustrofóbicas. E vamos baixando, baixando, baixando, até que a ponta do avião volta a apontar para os céus e as turbinas voltam a acelerar a toda velocidade (e ruído).

E a segunda tentativa falha. Hora de conversar com Deus, ou deuses, ou talvez de convidar a aeromoça para uma última rapidinha antes da morte iminente. Mas a aeromoça pega o telefone e se comunica com a cabine. Não sorri, mas também não chora. Estarei vivendo um sonho repetidas vezes?

E os alto falantes dizem que a visibilidade não nos permite pousar em Vigo, que vamos a Santiago de Compostela. Dez minutos e já estávamos em terra, sãos e salvos, sem rapidinha e com algumas cuecas sujas. Fico devendo uma peregrinação para o santo.

2 comentários:

*Renata Gianotto disse...

Meu Deus!

Eu acho que já tinha infartado. Quem teve a brilhante idéia de construir o aeroporto numa montanha?!

Quanto ao novo projeto, que bom que gostou! Vc é sempre bem-vindo. Hoje tem Blogagem Coletiva sobre Direitos Humanos, se quiser participar, dá uma passada lá.

Beijo querido!

*Renata Gianotto disse...

Adorei sua visita viu Le.. agora estou esperando sua atualizacao!

Hasta la vista!