sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Sessentão

Passei os últimos anos de minha vida tentando encurtar com palavras a distância oceânica que separa por infelicidades geográficas o novo e o velho continente. Desde o lado de lá, parecia-me que as longas cartas, os não tão longos correios eletrônicos e as curtíssimas mensagens telefônicas eram quase suficientes para cumprir este árduo papel. Desde o lado de cá, o oceano parece mais extenso e, apesar dos meus esforços pouco literários, tenho a convicção de que não serei capaz de diminuir sequer alguns quilômetros deste mundaréu de águas que continua interpondo-se entre mim e as pessoas que eu quero.

Mas eu sou uma pessoa persistente, para não dizer cabeça-dura, e quero aqui insistir nesta luta. Desta vez, as palavras vão direcionadas para o homem da minha vida, se é que me permitem o uso desta expressão. E por esta responsabilidade que me toca neste momento, as águas atlânticas se fazem mais profundas, mais tormentosas e mais instransponíveis do que jamais foram.

Que difícil é parabenizar e agradecer a alguém que acompanhou todos os meus quase trinta anos de vida! Seria muito pouco dizer um “parabéns, felicidades, você é sensacional” para alguém que esteve presente desde os momentos por mim esquecidos, do trocar das fraldas, do aprender a andar e a falar, até os momentos que deixamos de contar por já passarem despercebidos, como os almoços ou uma hora qualquer de domingo em frente à televisão.

Rio com minha mente matemática quando lembro que sessenta são o dobro de trinta. Inocentemente, sempre achei que esta seria uma época extraordinária para mim, pois teria a metade da sua idade e, conseqüentemente, metade de todas as suas virtudes. Doce ilusão do engenheiro que às vezes se esquece que na vida quem manda não são os números, mas sim o coração.

E de repente penso nos abraços, no beijo e no sorriso tímido que trocaríamos se eu estivesse por aí no dia de hoje. E me convenço finalmente que minhas palavras jamais serão suficientes.

Parabéns, pai. Fico devendo os abraços, o beijo e o sorriso tímido. Prometo pagar com juros quando esse mar já não for tão grande e pudermos estar próximos outra vez.

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